sexta-feira, junho 19, 2009

DEPOIS QUE O ÔNIBUS PASSOU

Era inicio dos anos setenta, eu havia voltava para a capital de São Paulo depois de um longo período de reclusão num colégio de padres (seminário) no interior de Minas Gerais e São Paulo.
Ávido do saber eu andava sempre com um livro debaixo do braço para aproveitar ler durante a viagem de ônibus e em outras oportunidades.
Certa noite retornando para casa percebi que havia passado o último ônibus e por algum motivo não havia parado ao dar sinal. Era uma época que havia poucas opções de transporte coletivo, principalmente onde eu me encontrava, no Ipiranga para Vila Formosa.
Não havendo mais esperanças de novo transporte comecei a caminhar pelas ruas já desertas do Ipiranga rumo a Vila Prudente e depois Vila Formosa onde eu morava com meus pais.
Pouco antes da meia noite estava eu já cruzando a linha ferroviária sobre o viaduto (Viaduto Pacheco Chaves) que atravessa a Avenida do Estado rumo a Vila Prudente.
Eu caminhava absorto pela lateral direita que destinada a pedestres quando de repente percebi um táxi que parou ao meio fio pouco a minha frente.
Percebi que a porta do passageiro se abriu e ouvi a voz do motorista convidando-me a entrar.
Confesso que fiquei surpreso visto não ter solicitado a parada do referido táxi.
O motorista indagou-me:
- Vai para que lugar moço ?
Então respondi:
- Estou indo para casa.
- Moro em Vila Formosa e o último ônibus passou direto.
Mas eu lhe disse que não podia pegar o táxi pois não havia dinheiro para pagar pela corrida - e mesmo assim ele insistiu mais uma vez:
- Entre, é o meu caminho, eu posso deixá-lo lá na sua casa.
Então um pouco ressabiado entrei no veículo que seguiu o seu destino.
Uma indagação inquietante ocorria em meus pensamentos.
Antes que eu dissesse qualquer coisa o motorista puxou conversa e explicou:
- Sabe, eu parei porque vi que você é estudante. Percebi que você estava com um livro debaixo dos braços e é muito perigoso um jovem estudante andar por ai a esta hora. A P.E. (Polícia do Exército) costuma recolher e prender jovens (mesmo adultos) pelas ruas sem nenhum motivo e depois nunca mais se tem notícias deles.
- Eu sei como é. (disse ele).
- Eu conheço muitos casos de pessoas que desapareceram, depois os pais procuram seus filhos e não encontram mais!
Depois de ouvir, com atenção, o relato do motorista contei-lhe que eu havia acabado de servir o Exército no interior e que eu sempre ando por ai sem nenhum receio.
Fomos conversando e de repente já estávamos próximo a minha casa. Então eu agradeci o gentil senhor e disse-lhe que podia deixar-me ali mesmo na avenida próxima a minha casa. Mas ele insistiu em deixar-me na porta de casa e em seguida seguiu seu destino.
Ao entrar em casa, encontrei meus pais e meus irmãos já adormecidos e só no dia seguinte eu pude relatar o fato a eles que também ficaram sensibilizados com a atitude do bom senhor.

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CORUJA

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Meu elemento xamânico.