segunda-feira, junho 22, 2009

Meus lugares inesquecíveis.

Até aos cinco anos de idade meus lugares prediletos na roça onde morava era explorar os caminhos entre o mandiocal. Uma vasta área em que papai cultivava mandioca e durante uma boa parte do ano as ramas cresciam cerca 1.50m a 2,00 m de altura e algumas até um pouco mais.
Os animais deixavam trilhas por baixo daqueles arbustos e em alguns lugares formava-se uma clareira. As trilhas eram caminho com terra batida pela passagem dos animais (galinhas, pássaros, os animais domésticos, alguns animais selvagens como pequenos veados, gatos do mato, jaguatiricas, entre outros.
Aquelas trilhas eram cheias de encruzilhadas e sempre dava em alguma clareira lugares agradáveis para se brincar. Muitas vezes eu tinha que me abaixar para passar pois as trilhas em forma de túneis eram baixas mas em boa parte eu podia caminhar quase sempre de pé, mas sempre abaixando a cabeça.
Ali eu passava horas brincando, ora observando os pássaros que ali vinham compartilhar daquela suave sombra ora explorando aqueles caminhos já prontos ou até mesmo construindo outros até que meus pais percebendo minha ausência ao redor da casa chamavam por mim.
Aos poucos fui perdendo o receio e explorarando o carrego represado que ficava abaixo do mandiocal o qual descia em direção a fazendo de meus avós.
Havia dois trechos um antes do açude, mais profundo e grosso e outro que ficava abaixo da casa em que morava e este possuía mais água represada e margeado de bastante árvores e vegetação. Depois do açude a água fluía mais indo alimentar o monjolo, o moinho, a usina elétrica, o carneiro e as vezes ainda tinha outras serventia mais la na sede da fazenda.
Alguns trechos possuía a margem limpa e como suas águas eram claras me aventurava entrar onde não fosse profundo.
Escondido do vô João e sempre com a anuência da vó Anita que pedia a um empregado, o "Zé da Mãezé" improvisar uma jangada com troncos de bananeiras por sugestão de vovó para que eu pudesse brincar no córrego indo e voltando no trecho navegável cerca de 700 m acima da fazenda.
Ali passava boa parte do dia em cima da improvisada jangada que para o meu peso e tamanho era o suficiente para navegar pelo córrego. O Réx, um pequeno cão da fazenda sempre me acompanhava e muitas vezes servia de alerta, seus latidos me avisavam da presença de serpentes as margens.
Enquanto a jangada deslizava pelo leito do córrego represado passava por galhos verdes e carregados de amoras das quais aproveitava pra deliciar-me com aquelas frutinhas frescas.
As vezes encostava a jangada as margens e saia para ficar na pequena cachoeira ao meio da mata que ficava aos fundos do pomar. Lá depois de me refrescar com uma água límpida e fria sentava-me numa pedra e ficava a observar os pássaros e outros pequenos animais que por ali buscavam refúgio do sol quente. Não raro encontrava alguma serpente em busca de alimento, geralmente pequenos pássaros ... mas parece que ambos eu e elas tomávamos sempre caminhos opostos e jamais procurávamos qualquer aproximação.
O local era exuberante em flora e animais por isso era muito bom estar ali, uma pena que não havia ninguém a compartilhar aqueles momentos.
Quando cansava de ali ficar adentrava no vasto pomar em busca de alguma fruta "temporona".
Dali ouvia-se toda a lida da fazenda, o som das galinhas cacarejando, de vez em quando um mugido aqui e acolá, ora o canto triste e cansado do carro de boi que chegava carregado com a "panha" do dia. E o estampido seco do monjolo a trabalhar desde o nascer do sol.
Mas havia um momento do dia que tudo parecia silenciar, não se ouvia nada nem o vento a roçar os galhos das árvores.
- Ah este é o momento do perigo ! (diziam os velhos empregados da fazenda)
- Hora da onça tomar água!
Parece que toda a bicharada respeitava esta hora, até os pássaros pareciam silenciar em respeito a rainha da mata!
Saia pelo pomar entre laranjeiras, macieiras, e outras espécies frutíferas em busca de alguma fruta madura, sempre que encontrava alguma fruta "temporão" eu colhia-a com todo cuidado e corria a presentear mamãe ou vovó que estava lá na cozinha preparando o almoço ou o jantar.
- Mãe ! Olha que eu trouxe para a senhora!
Quando ela gostava e comia me enchia de alegria e contentamento.
Ah, gostava de subir a colina que no seu topo havia uma pedreira em forma de laje e de lá se avistava longe!
Fica ali por muito tempo as vezes até o entardecer quando o sol começava a beijar o horizonte e eu ouvia as vozes dos camaradas que já nas suas casas proseavam e alguns pegavam suas violas e se punha a cantar. Lá do alto da pedreira ouvia-se tudo, as vozes misturando-se aos outros sons, os pássaros já se preparando para seus aposentos. E o céu já numa transição de cor começava a mudar suas nuanças.
Geralmente não esperava vô João chamar para almoçar ou jantar, pois ele fazia questão que todos estivéssemos junto a mesa na hora das refeições.
Acontece que nas minhas andanças pela fazenda as vezes era atraído pelo cheiro da comida lá na casa do Zé Soares, então costumava me aproximar do casebre e logo a "Memba" (mulher do Zé Soares) chamava vem menino, come um pouco! Eu dizia não obrigado, mas ao mesmo tempo caminhando em direção da cozinha. Eu dizia que não poderia comer que mamãe e vovó se zangariam e a Memba logo ia dizendo:
- Bobo, come aqui e depois você come lá! É só não falar!
Eu não resistia a esta gula e assim frequentemente eu repetia tal façanha.
Gostava muito de subir em árvores e havia muitas árvores frondosa naquela época lá na fazenda da Mata. Aproveitava a ausência de papai e do vovô pois eles não gostavam de me ver arriscando subir nas maiores árvores.
Geralmente eu conseguir escalar os mais altos galhos, ah, mas a descida! Ai era uma coisa, eu ficava longo tempo lá no alto com medo de descer e não podia pedir ajuda
Mas sempre consegui subir e depois descer. É que os galhos eram grossos e as vezes longos e por ser ainda criança minhas pernas não alcançavam os galhos. Para subir era sempre mais fácil mas a descida era sempre mais preocupante.
Alguns lugares eu não me aventurava ir sozinho e aproveitava a vinda dos primos para com eles visitar os lugares que eu conhecia ou desejava ir.
Eles na maioria das vezes tinham medo e para encorajá-los eu fingia não ter nenhum medo ou receio, mas na verdade eu também tinha. E assim enfrentávamos novas aventuras.
Uma delas foi no Morro da Onça, sempre olhava aquele morro imponente e dizia ainda vou subir lá. Devia ter uns sete anos quando reuni meus primos Dalmilho, Raquel, Jane, Mariete e depois de preparar uma bandeira com um lençol velho de vovó nos arrumou partimos em direção a tão sonhada aventura.
Vovó e alguns empregados nos alertou, algo que eu sabia, do perigo de embrenhar-se nas matas do Morro da Onça, refúgio de muitas cobras, principalmente da cascavel que prefere lugares com muitas pedras e a humidade da mata
Mas fomos assim mesmo, ora eu não podia demonstrar nenhum medo aos primos da cidade, afinal eu morava ali na fazenda!
Conseguimos alcançar o topo do Morro da Onça e de lá desfrutar de uma visão maravilhosa.
A leste conseguíamos ver alguns sinais das cidades vizinhas como pontinhos brancos incrustado nas montanhas no horizonte, lá deveria estar primeiro Cana Verde, Perdões e Carmo da Cacheira. A oeste tínhamos a visão da Fazenda da Mata emoldurada com o Morro dos Pimentas aos fundos. Ao Norte podíamos enxergar parte da nossa cidade, Campo Belo e ao Sul vestígios do Rio Grande que serpenteava entre as montanhas em rumo a Serra de Boa Esperança a qual era visível. O Morro da Onça na década de 60 e início de 70 ainda guardava intacta a mata nativa, todo recoberto de verde deixando aparecer só uma laje rochosa no seu topo e em do lado norte, na encosta rompiam algumas enormes pedras.
Chegamos a parte superior e logo fomos tratar de deixar nosso marco, a bandeira improvisada com o lençol velho que vovó nos arrumou.
Eu me arrisquei a escalar algumas pedras que ficavam mais a extremidade enquanto minhas primas ficaram com o Dalmilho na laje.
Mais tarde em outras férias refiz a mesma aventura e hoje, sinto saudade e vontade de repetir o mesmo.
Mas dá uma tristeza, mesmo de longe, ao ver pelo Google Earth que o meu Morro da Onça não é mais o mesmo!
Teria envelhecido? Estaria doente? Não, o homem acabou com sua beleza primitiva. Hoje ele ainda está lá mas despido e triste!
A leste conseguíamos ver alguns sinais das cidades vizinhas como pontinhos brancos incrustado nas montanhas no horizonte, lá deveria estar primeiro Cana Verde e Perdões. A oeste tínhamos a visão do da Fazenda da Mata tendo como cenário de fundo o Morro dos Pimentas. Ao Norte podíamos enxergar parte da nossa cidade, Campo Belo e ao Sul vestígios do Rio Grande, lá pelos lados do Porto dos Mendes serpenteando pelas montanhas em rumo a Serra de Boa Esperança a qual era visível.
O Morro da Onça até o início da década de 60 ainda guardava intacta a mata nativa
Todo recoberto de verde mostrando apenas a laje rochosa no seu topo e em todo lado norte, na encosta rompiam algumas enormes pedras.
Chegamos a parte superior fomos logo arranjando uma maneira de deixar nosso marco lá no topo, a bandeira improvisada com o lençol velho que vovó nos arrumou.
Eu me arrisquei a escalar algumas pedras que ficavam mais a extremidade enquanto minhas primas ficaram com o Dalmilho aguardando na laje.
Mais tarde em outras férias refiz a mesma aventura e hoje, sinto saudade e vontade de repetir o mesmo.
Sinto uma tristeza imensa, mesmo de longe, ao ver pelo Google Earth que o meu Morro da Onça .
- Ele não é mais o mesmo!
- Teria ele envelhecido?
- Estará doente?
- Não, o homem é que acabou com sua beleza primitiva.
- Hoje ele ainda está lá !
- Mas despido e triste!
Assim como toda a região ao seu redor que antes era só verde, hoje é vegetação rasteira, nem mesmo os lindos cafezais ao pé do morro não existem mais apenas uma pobre pastagem.
Ainda na década de sessenta a fazenda da Mata ainda guardava lembranças de uma época mais remota. Havia na colina ao Sul da sede, restos de muralhas de pedra, um pouco mais acima uma tapera, onde só restava alguns alicerces de pedra indicativo de antiga fazenda, e algumas valas.
Eram os dois tipos de cercas, obstáculos que faziam para separar propriedade e mesmo dividir os animais. Tanto a muralha de pedras como a vala funcionava como demarcação ou obstáculos para o gado e outros animais maiores.
Era um dos lugares que eu gostava de frequentar embora sabia do perigo de cobras nestes locais de pedras ou valas.
No verão meu lugar predileto era nos manguesais, havia muita manga, muitas espécies diferentes e com esta abundância os porcos disputavam com os saguis e até mesmo com os ouriços (Porco Espinho) esta deliciosa fruta tropical.
Eu tinha as minhas preferidas, geralmente as mangueiras as quais apenas os saguis frequentavam e cujos galhos eu pudesse escalar e ali ficar saboreando as mais bonitas e doces mangas.
Ainda na década 50 saímos da fazenda da Mata e fomos morar no nosso sítio no Porto dos Mendes, mais precisamente no Morro Grande. Lugar isolado, tendo o Porto como o lugar povoado mais próximo, cerca de 8 kilômetros aproximadamente. Mas não havia nenhuma vizinhança ali, eu vivia mais sozinho que na fazenda de vovó.
Ali encontrei e explorei muitos lugares ao pé do Morro, a beira de córregos de águas límpidas, goiabeiras e mangueiras por todos os lados.
Gostava de frequentar a mata e ficar ali observando a beleza dos pássaros. A noite fica a olhar para as montanhas onde enxergava a luz dos carros que passavam na estrada rumo a Boa Esperança.
A caminho do Porto por uma estrada de terra que mal passava um carro de boi apreciava-se frutas silvestres e límpido córregos que buscavam o Rio Grande
De manha e a tarde ouvia-se o piar e o cantar da Siriema e das Saracuras, depois os Sabiás entre outros. Era sempre uma linda sinfonia!
A tardezinha, mais ao anoitecer lá na encosta da morro vinha o uivado as alcateias que ali se reuniam.
Embora em pequeno volume a água era abundante em nosso sítio e papai consegui conduzir uma boa parte da nascente para passar na porta de casa.
Fim da década de cincoenta, início da década de sessenta papai vendeu o sitio. Retornei por uns tempos para a fazenda de vovó onde aproveitei mais um pouco meus lugares prediletos já descritos aqui e depois disso meados de 1961 papai levou nos para São Paulo.

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CORUJA

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