quarta-feira, julho 22, 2009

MEU PAI, MEU ÍCONE.

Hoje, regresso a minha mais tenra idade, minha infância e vejo-me nos braços de meu pai.
Antes mesmo de aprender as primeiras palavras podia entender e compreender todo carinho e amor que ele dedicava a mim.
Aos domingos levava-me nos braços para a feira e sempre me comprava balões coloridos em forma de pato, cataventos coloridos, piões coloridos e outros brinquedos que me chamava atenção.
Passava a maior parte de seu tempo de folga em casa a brincar comigo.
Aos poucos fui crescendo e aquele carinho paterno também.
Quando comecei a entender um pouco a comunicação verbal iniciei logo cedo a fazer perguntas tipo:
..... que é isso?
..... que é aquilo?
......por que isso?
......por que aquilo?
Lembro-me que sempre tinha a resposta de tudo.
A medida que eu crescia ia mudando o repertório de meus questionamentos mas papai estava ali sempre com suas explicações.
Sempre fui mais observador... mas uma criança ainda não possui o senso crítico dai necessidade de perguntar mais.
Diante de uma noite estrelada, enluarada indagava sempre sobre os mistérios das estrelas, da lua e do sol!
Sempre gostei de observar o céu de dia as nuvens e a noite as estrelas.
Gostava muito de ouvir suas estórias e seus causos.
De sua infância, de seus pais pouco me falou, mas as vezes escapava algumas passagens de quando criança, mas muito raro.
Papai sempre fora muito carinhoso e sempre muito atento a qualquer gemido, soluço ou choro. Sempre estava ali do lado para observar e dar segurança e amor.
Certo dia meu pai levou-me a Mercearia Godinho, onde trabalhava no centro da cidade, no mesmo lugar que hoje ela existe, a rua Líbero Badaró, próximo ao viaduto do Chá todo orgulhoso para mostrar-me aos seus colegas de trabalho.
Lembro-me que eu ainda nem sabia andar, mas podia ver e ouvir tudo que se passava em volta.
Gostava de ficar observando o movimento dos carros, dos ônibus e os prédios por onde passava.
Em casa, nas suas horas de folga, papai costumava pegar-me no colo e brincar muito comigo. A noite antes de dormir gostava de brincar de cavalinho, de saltar na sua barriga.
Muitos outros momentos marcantes estão vivos na minha memória, mas serão narrados em episódios a parte em outros contos e crônicas.
O tempo passou, cresci, atravessei a infância, a adolescência, a juventude e alcancei a minha maturidade e em todas as fases de minha vida sempre tive e ainda tenho o carinho e a dedicação de papai, como nos velhos tempos.
É como se o tempo (mais de meio século) entre nós não tivesse passado e rogo a Deus para que esta graça perdure ainda por muito tempo.

MINHA IDA PARA O SEMINÁRIO

DISTANTE DE CASA AOS 12 ANOS DE IDADE.

Lembro-me que desde muito novo alimentava-me de um sonho de ir estudar no seminário e tornar-me um padre como meu tio Antônio!
Até os meus dez anos este sonho foi fortalecendo com a influência externa. Além de meus pais sempre terem manifestado esta vontade havia a projeção do tio padre o qual era para mim um modelo.
Depois, já na cidade grande, participando ativamente das atividades paroquiais esta intenção de ir para o seminário fortificou-se mais ainda. Os incentivos vinham por parte da família, dos amigos de meus pais, das freiras e padres da igreja.
Até que ao concluir o primeiro ciclo do Ensino Fundamental a minha ida para o interior foi decidida com a visita de um padre lá do seminário que foi visitar meus pais. E então tudo foi acertado para a minha viagem. Marcaram o dia para que eu viajasse e meu pai teve a garantia de que ao desembarcar na distante cidade do interior de Minas Gerais este padre estaria lá a minha espera.
Assim chegou o dia decisivo de minha vida, o embarque. Despedi de minha mãe, de meus irmãos e rumei a rodoviária com meu pai que acompanharia-me até a saída do ônibus.
A sensação era um misto de aventura, medo e ansiedade por aquilo que eu encontraria lá fora. Era a primeira vez que me afastava de meus pais, de meus irmãos, de todos que eu conhecia.
Eu ainda ia completar doze anos no mês seguinte.
Acenei para meu pai que aguardava, lá na calçada, o ônibus partir e em seguida enxugando as lágrimas que despencaram tentei distrair-me observando a paisagem e ocupando meus pensamentos ... imaginando a minha chegada na nova cidade, o colégio e imaginando como seria minha vida a partir daquele dia. Para onde eu estava indo não havia ninguém conhecido a não ser o padre que esteve em casa combinando a minha ida para lá e que eu havia visto apenas uma vez. Tudo era novidade e desconhecido.
Sempre ouvi estórias do seminário, onde meu tio e meu pai estudaram.
Após algumas horas de viagem percebi que estávamos chegando ao destino e observando a sinalização na rodovia percebi que estava já na cidade de Itajubá, meu destino final.
Ao desembarcar-me encontrei, a minha espera, o padre Tarcísio conforme prometido a meus pais. Após cumprimentos o padre conduziu-me ao seminário que pelo duração do percurso vi que ficava bem próximo a rodoviária, perto do centro da cidade.
Era um prédio enorme, sobrado, tendo a sua direita uma capela e a sua esquerda uma vasta área verde, pomar e campo de futebol.
De início foi assustador entrar naquele prédio enorme e deserto, para recepcionar-me apenas o padre e dois alunos que também estavam a minha espera para seguir viagem a uma cidade vizinha onde os alunos estavam em período de adaptação aproveitando a última quinzena de férias aos pés das montanhas da Mantiqueira, quase divisa de São Paulo com Minas Gerais.
Viajaríamos no dia seguinte, os dois alunos que lá estavam aproveitaram para mostrar-me todas as dependências da escola, antes levaram-me ao dormitório onde coloquei meus pertences no meu armário.
Era um longo e espaçoso salão com duas fileiras de camas junto as janelas, cada qual com seu criado (armário).
A noite se aproximava e mal deu tempo para conhecer todas as dependências. O silêncio ali era total e chegava a ser assustador. mas a alegria contagiante dos dois novos colegas animaram-me e logo fomos para o refeitório com dezenas de mesas vazias e ocupamos apenas uma delas para a refeição do jantar.
Disseram que sairíamos cedo para Delfim Moreira e portanto devia dormir cedo. A primeira noite apesar do cansaço o sono demorou a vir com tanta coisa passando pela minha cabeça.
Logo ao amanhecer um deles veio me acordar. Levantei, escovei os dentes, lavei o rosto e me troquei. Ah, já deixei umas mudas de roupas para levar conforme orientação e fomos tomar o café da manha e logo em seguida fomos para a rodovia.
Logo apareceu uma jardineira e ao acenar ela parou e entramos os três. A viagem durou cerca de duas ou três horas, pois a jardineira parava nas fazendas e vilas por onde passava.
Entre montanhas apareceu uma pequena cidade cercada de verdes matas e riachos de águas cristalinas, era ali que encontraríamos os alunos juntamente com o padre superior.
Era manha, o sol brilhava, o clima era ameno, logo deparamos com grupos de jovens perambulando pela praça e logo aproximaram de mim já dando as boas vindas e em seguida apareceu o padre Antônio Cortês o Superior da escola que veio dar me as boas vindas.
A recepção foi calorosa e logo já me senti em casa, enturmado.
A pequena cidade era acolhedora e éramos bem vindos ali, todos cumprimentavam os alunos e andávamos a vontade por todo os lados.
Segui o exemplo dos demais alunos e fiquei só de calção de banho e camiseta e logo acompanhei um grupo que ia nadar no rio.
Que maravilha! Encontramos um riacho transparente e com alguns pontos com maior profundidade onde dava para ver o fundo branco de areia, mas a visão nos enganava, parecia raso e ao mergulhar percebíamos que alguns pontos eram profundos mas límpido. A maioria dos alunos já conhecia o local e assim eu apenas os acompanhava.
Depois de nadar, escalar morros, cavalgar, ... a noite chegava e ainda restava atividades de lazer como gincanas, música, canto e várias brincadeiras de grupo.
Passamos dias inesquecíveis e muito agradáveis ali e quando aquele encontro de adaptação terminou sentimos saudade mas muito ainda havia para conhecer na cidade.
A nossa despedida do lugar foi cheia de pesares, as pessoas acenavam e diziam para que a gente voltasse ali mais vezes. A acolhida havia sido maravilhosa e até parecia que estávamos em meio de nossas famílias, nas nossas cidades de origem.
Assim terminou o meu primeiro encontro de adaptação pós férias.
Mais tarde, outras vezes, ali retornei com alguns colegas mas esta primeira vez foi muito marcante e especial.
Mais alguns dias no seminário em adaptação e depois de uma semana iniciou-se o ano letivo. Muitas novidades, aventuras e novos conhecimentos vieram a seguir no ano de 1962 em Itajubá, Sul de Minas.

terça-feira, julho 21, 2009

FESTA NA ROÇA


Domingo ensolarado, a natureza toda em festa numa daquelas manhãs ensolaradas de inverno lá na fazenda da Mata.
Todos se preparavam para algum acontecimento especial. Vovô estava lá na frente do curral acertando os últimos detalhes da montaria dos cavalos.
Mamãe disse me que íamos todos ao batizado do filho do Juca Néca, amigo de vovô em sua fazenda que ficava logo abaixo do Morro da Onça.
Chegando lá reconheci que era aquela fazenda em que costumávamos ir naquelas festas junina com muitos fogos, fogueira e muitos quitutes.
Logo dirigimos para a pequena capela que ficava acima da sede, lá no alto da colina. A capela era pequena e a maioria das pessoas, principalmente os empregados da fazenda ficavam do lado de fora a espiar o que se passava lá dentro.
Era um dia festivo, as roupas coloridas das pessoas contrastavam com a linda paisagem iluminada pelos raios do sol naquele belo domingo.
Minha família, mamãe, vovó, vovô, tio Toalba e eu ficamos lá bem diante do altar ao lado da família do amigo do meu avô.
O padre Godofredo de origem holandesa e ainda arrastando um português enrolado, mas compreensível para a maioria, pois estávamos já habituados com os padres holandeses na cidade. Praticamente não havia padres brasileiros na maioria das paróquias.
Com aquela peculiar curiosidade infantil eu observava tudo ao meu redor e notei que o padre conversava com os pais da criança e com meus avós e que havia algo errado. O padre não concordava com alguma coisa, deu para ver que estavam falando de meu tio que seria o padrinho da criança a ser batizada.
De repente meu avô acena-me para que eu fosse até ele que se encontrava ao lado da pia batismal e apresentou-me ao padre.
Foi ai que ouvi o padre dizer que então eu seria o padrinho daquela criança pois o meu tio não poderia ser por professar outra crença, ser (* )protestante.
Eu tinha nesta época aproximadamente seis anos de idade, mal compreendia aquela situação mas fiz o que mandaram eu fazer.
Entregaram-me aquela criança para eu segurar enquanto o padre procedia a cerimônia.
O padre era muito severo, lembro-me que ficou nervoso quando percebeu a presença de duas moças aproximando do altar para auxiliá-lo afastou-as imediatamente dizendo:
- A mulher não pode tocar nos objetos sagrados e nem no altar.
Foi então que um senhor se aproximou e auxiliou o padre durante toda a cerimônia.
Os anos passaram e por mais de uma década ainda visitei a fazenda de vovó, mas jamais retornei a fazenda do seu Juca Neca e nunca mais tive notícias de meu "afilhado".
Só fui entender o que realmente se passou muito tempo depois.
Ao meu ver uma coisa absurda, uma hipocrisia, uma intolerância da igreja ou do padre Godofredo!?
Uma criança batizando outra criança sem ao menos saber, compreender o significado de ser "padrinho".
E durante toda a minha vida este foi o único afilhado . Nunca mais fui convidado a ser padrinho de nenhuma outra criança!

Obs.: Vovó era protestante, ou seja, evangélica como hoje falamos e vovô católico.

Era comum nas famílias os filhos homens seguir a mãe, ser educados na religião ou crença da progenitora e as filhas mulheres educadas na crença do pai.

segunda-feira, julho 13, 2009

Lembranças do tio Lerico

Final de 1950, o mês exato não posso precisar mas sei que estou na terra da garoa, São Paulo dos anos 50 e ainda posso ouvir aquele sotaque lusitano por t odos os lados, as vezes o italiano, o árabe entre outros que se soma a cultura e falácia dos migrantes que para São Paulo vieram atrás do sonho de vencer na vida.
Vejo a cidade mais saudável, mais festeira, e andando mais devagar e menos poluída.
As estátuas espalhadas pelas praças e avenidas chamam-me a atenção. O emaranhado dos edifícios, os bondes, os ônibus e os carros me enchem de curiosidade.
Nos bairros sinto ainda o cheiro peculiar do carvão e querosene! Um cheiro que lembra o fogão a lenha lá do interior de onde a maioria migrou.
Mas sinto saudade das montanhas, morros, das matas, das aves, dos córregos de águas límpidas.
Na Praça da Sé vejo a Catedral ainda em construção, sem suas torres, a rua Santa Teresa está ali separando a Praça da Sé da Praça Clóvis Beviláqua com seu "glamour" guardando imponente seu cinema e restaurantes.
Lá nos fundos da Catedral vejo a construção do Fórum da João Mendes, bondes elétricos circulando imponentes pelos trilhos incrustados nos paralelepípedos que calçam as ruas do centro da velha capital que se renova a cada dia com a chegada de mais imigrantes e a construção de novos edifícios.
Depois de cruzar a Praça João Mendes, olho a minha esquerda paro na esquina da Avenida Liberdade e posso ver lá do lado do canteiro de obras do (hoje) Fórum da João Mendes, uma jovem mãe com seu filho no colo apontando para cima, ao meio dos andaimes um dos operários que lá trabalhava como carpinteiro.
- Olha filho,é o tio Lerico que está trabalhando lá em cima!
Acena-se para um senhor lá no alto e pouco depois observo-o descendo e indo em direção da mãe com o filho nos braços e por alguns minutos conversam de maneira familiar.
- Tio Lerico, este é o Adauto, o meu menino, o Walter foi me buscar lá em Campo Belo.
- Ah... Gileite fico muito feliz de ver você com este menino forte e bonito!
Atento a tantas coisas ao meu redor... uma infinidade de sons … eu nem ouvi o que continuaram a conversar... quando de repente percebi que os dois se despediram e pouco depois e aquele senhor voltou aos seus afazeres e a jovem mãe com seu filho se foi.
De repente, como num passo de mágica aquele cenário todo mudou, estava eu no mesmo lugar mas diante de uma movimentada e nervosa cidade com um trânsito alucinante, centenas de pessoas tentando atravessar entre carros a avenida Liberdade e a movimentada Praça João Mendes.
Ai me dei conta de que o tempo passou, meio século depois então percebi que aquela jovem mulher era justamente a minha mãe e a criança nos seus braços era quem agora escreve esta lembrança viva.

Obs.: (Corrigindo a História) :
Saudosos tio Lerico, cunhado do Vô João, marido tia Anésia trabalhava como carpinteiro no início da construção do Fórum da João Mendes, 1950.
O que contraria informações na Internet de que a referida obra deu-se no ano de 1956.

CORUJA

CORUJA
Meu elemento xamânico.