DISTANTE DE CASA AOS 12 ANOS DE IDADE.
Lembro-me que desde muito novo alimentava-me de um sonho de ir estudar no seminário e tornar-me um padre como meu tio Antônio!
Até os meus dez anos este sonho foi fortalecendo com a influência externa. Além de meus pais sempre terem manifestado esta vontade havia a projeção do tio padre o qual era para mim um modelo.
Depois, já na cidade grande, participando ativamente das atividades paroquiais esta intenção de ir para o seminário fortificou-se mais ainda. Os incentivos vinham por parte da família, dos amigos de meus pais, das freiras e padres da igreja.
Até que ao concluir o primeiro ciclo do Ensino Fundamental a minha ida para o interior foi decidida com a visita de um padre lá do seminário que foi visitar meus pais. E então tudo foi acertado para a minha viagem. Marcaram o dia para que eu viajasse e meu pai teve a garantia de que ao desembarcar na distante cidade do interior de Minas Gerais este padre estaria lá a minha espera.
Assim chegou o dia decisivo de minha vida, o embarque. Despedi de minha mãe, de meus irmãos e rumei a rodoviária com meu pai que acompanharia-me até a saída do ônibus.
A sensação era um misto de aventura, medo e ansiedade por aquilo que eu encontraria lá fora. Era a primeira vez que me afastava de meus pais, de meus irmãos, de todos que eu conhecia.
Eu ainda ia completar doze anos no mês seguinte.
Acenei para meu pai que aguardava, lá na calçada, o ônibus partir e em seguida enxugando as lágrimas que despencaram tentei distrair-me observando a paisagem e ocupando meus pensamentos ... imaginando a minha chegada na nova cidade, o colégio e imaginando como seria minha vida a partir daquele dia. Para onde eu estava indo não havia ninguém conhecido a não ser o padre que esteve em casa combinando a minha ida para lá e que eu havia visto apenas uma vez. Tudo era novidade e desconhecido.
Sempre ouvi estórias do seminário, onde meu tio e meu pai estudaram.
Após algumas horas de viagem percebi que estávamos chegando ao destino e observando a sinalização na rodovia percebi que estava já na cidade de Itajubá, meu destino final.
Ao desembarcar-me encontrei, a minha espera, o padre Tarcísio conforme prometido a meus pais. Após cumprimentos o padre conduziu-me ao seminário que pelo duração do percurso vi que ficava bem próximo a rodoviária, perto do centro da cidade.
Era um prédio enorme, sobrado, tendo a sua direita uma capela e a sua esquerda uma vasta área verde, pomar e campo de futebol.
De início foi assustador entrar naquele prédio enorme e deserto, para recepcionar-me apenas o padre e dois alunos que também estavam a minha espera para seguir viagem a uma cidade vizinha onde os alunos estavam em período de adaptação aproveitando a última quinzena de férias aos pés das montanhas da Mantiqueira, quase divisa de São Paulo com Minas Gerais.
Viajaríamos no dia seguinte, os dois alunos que lá estavam aproveitaram para mostrar-me todas as dependências da escola, antes levaram-me ao dormitório onde coloquei meus pertences no meu armário.
Era um longo e espaçoso salão com duas fileiras de camas junto as janelas, cada qual com seu criado (armário).
A noite se aproximava e mal deu tempo para conhecer todas as dependências. O silêncio ali era total e chegava a ser assustador. mas a alegria contagiante dos dois novos colegas animaram-me e logo fomos para o refeitório com dezenas de mesas vazias e ocupamos apenas uma delas para a refeição do jantar.
Disseram que sairíamos cedo para Delfim Moreira e portanto devia dormir cedo. A primeira noite apesar do cansaço o sono demorou a vir com tanta coisa passando pela minha cabeça.
Logo ao amanhecer um deles veio me acordar. Levantei, escovei os dentes, lavei o rosto e me troquei. Ah, já deixei umas mudas de roupas para levar conforme orientação e fomos tomar o café da manha e logo em seguida fomos para a rodovia.
Logo apareceu uma jardineira e ao acenar ela parou e entramos os três. A viagem durou cerca de duas ou três horas, pois a jardineira parava nas fazendas e vilas por onde passava.
Entre montanhas apareceu uma pequena cidade cercada de verdes matas e riachos de águas cristalinas, era ali que encontraríamos os alunos juntamente com o padre superior.
Era manha, o sol brilhava, o clima era ameno, logo deparamos com grupos de jovens perambulando pela praça e logo aproximaram de mim já dando as boas vindas e em seguida apareceu o padre Antônio Cortês o Superior da escola que veio dar me as boas vindas.
A recepção foi calorosa e logo já me senti em casa, enturmado.
A pequena cidade era acolhedora e éramos bem vindos ali, todos cumprimentavam os alunos e andávamos a vontade por todo os lados.
Segui o exemplo dos demais alunos e fiquei só de calção de banho e camiseta e logo acompanhei um grupo que ia nadar no rio.
Que maravilha! Encontramos um riacho transparente e com alguns pontos com maior profundidade onde dava para ver o fundo branco de areia, mas a visão nos enganava, parecia raso e ao mergulhar percebíamos que alguns pontos eram profundos mas límpido. A maioria dos alunos já conhecia o local e assim eu apenas os acompanhava.
Depois de nadar, escalar morros, cavalgar, ... a noite chegava e ainda restava atividades de lazer como gincanas, música, canto e várias brincadeiras de grupo.
Passamos dias inesquecíveis e muito agradáveis ali e quando aquele encontro de adaptação terminou sentimos saudade mas muito ainda havia para conhecer na cidade.
A nossa despedida do lugar foi cheia de pesares, as pessoas acenavam e diziam para que a gente voltasse ali mais vezes. A acolhida havia sido maravilhosa e até parecia que estávamos em meio de nossas famílias, nas nossas cidades de origem.
Assim terminou o meu primeiro encontro de adaptação pós férias.
Mais tarde, outras vezes, ali retornei com alguns colegas mas esta primeira vez foi muito marcante e especial.
Mais alguns dias no seminário em adaptação e depois de uma semana iniciou-se o ano letivo. Muitas novidades, aventuras e novos conhecimentos vieram a seguir no ano de 1962 em Itajubá, Sul de Minas.
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