terça-feira, julho 21, 2009
FESTA NA ROÇA
Domingo ensolarado, a natureza toda em festa numa daquelas manhãs ensolaradas de inverno lá na fazenda da Mata.
Todos se preparavam para algum acontecimento especial. Vovô estava lá na frente do curral acertando os últimos detalhes da montaria dos cavalos.
Mamãe disse me que íamos todos ao batizado do filho do Juca Néca, amigo de vovô em sua fazenda que ficava logo abaixo do Morro da Onça.
Chegando lá reconheci que era aquela fazenda em que costumávamos ir naquelas festas junina com muitos fogos, fogueira e muitos quitutes.
Logo dirigimos para a pequena capela que ficava acima da sede, lá no alto da colina. A capela era pequena e a maioria das pessoas, principalmente os empregados da fazenda ficavam do lado de fora a espiar o que se passava lá dentro.
Era um dia festivo, as roupas coloridas das pessoas contrastavam com a linda paisagem iluminada pelos raios do sol naquele belo domingo.
Minha família, mamãe, vovó, vovô, tio Toalba e eu ficamos lá bem diante do altar ao lado da família do amigo do meu avô.
O padre Godofredo de origem holandesa e ainda arrastando um português enrolado, mas compreensível para a maioria, pois estávamos já habituados com os padres holandeses na cidade. Praticamente não havia padres brasileiros na maioria das paróquias.
Com aquela peculiar curiosidade infantil eu observava tudo ao meu redor e notei que o padre conversava com os pais da criança e com meus avós e que havia algo errado. O padre não concordava com alguma coisa, deu para ver que estavam falando de meu tio que seria o padrinho da criança a ser batizada.
De repente meu avô acena-me para que eu fosse até ele que se encontrava ao lado da pia batismal e apresentou-me ao padre.
Foi ai que ouvi o padre dizer que então eu seria o padrinho daquela criança pois o meu tio não poderia ser por professar outra crença, ser (* )protestante.
Eu tinha nesta época aproximadamente seis anos de idade, mal compreendia aquela situação mas fiz o que mandaram eu fazer.
Entregaram-me aquela criança para eu segurar enquanto o padre procedia a cerimônia.
O padre era muito severo, lembro-me que ficou nervoso quando percebeu a presença de duas moças aproximando do altar para auxiliá-lo afastou-as imediatamente dizendo:
- A mulher não pode tocar nos objetos sagrados e nem no altar.
Foi então que um senhor se aproximou e auxiliou o padre durante toda a cerimônia.
Os anos passaram e por mais de uma década ainda visitei a fazenda de vovó, mas jamais retornei a fazenda do seu Juca Neca e nunca mais tive notícias de meu "afilhado".
Só fui entender o que realmente se passou muito tempo depois.
Ao meu ver uma coisa absurda, uma hipocrisia, uma intolerância da igreja ou do padre Godofredo!?
Uma criança batizando outra criança sem ao menos saber, compreender o significado de ser "padrinho".
E durante toda a minha vida este foi o único afilhado . Nunca mais fui convidado a ser padrinho de nenhuma outra criança!
Obs.: Vovó era protestante, ou seja, evangélica como hoje falamos e vovô católico.
Era comum nas famílias os filhos homens seguir a mãe, ser educados na religião ou crença da progenitora e as filhas mulheres educadas na crença do pai.
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